"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens."
João Guimarães Rosa
É um dos mais grandes escritores da lingua portuguesa que aproveitou as ferramentas do seu universo letrado e culto para aproximar-se á regiâo do sertâo, e de Brasil em geral.
Nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais em 1908.
Ainda pequeno, o seu avô levou-o para Belo Horizonte donde concluiu os seus estudos. De criança aprendeu diferentes línguas o que com certeza ajudou-lhe a entender o proprio idioma para depois explora-lo através da literatura.
Matriculou-se na faculdade de medicina e mudou-se para Itaguara, uma localidade que fica no interior de Minas Gerais. Alguns anos mais tarde, serviu como médico voluntário da Força Pública (uma instituçâo militar). A vivença de determinadas emoçôes e sentimentos do ser humano durante o seu trabalho, probavelmente ajudaram-lhe á creaçâo dos seus personagens.
A vida de medico deixou-o muito angustiado. Sentiu-se incapaz de terminar com os sofrimentos e os males humanos. Foi assim que decidiu abandonar definitivamente a medicina.
Começou uma carreira brilhante na diplomacia que permitiu-lhe fazer muitas viagens para o exterior, e sobretudo permitiu-lhe escrever.
Sagarana foi o primeiro livro de Guimarâes Rosa, um livro cheio de grandes contos e de historias interesantes.
A sua aportaçâo é o jeito de incorporar á lenguagem culta, a fala popular. Tambem este livro mostra a sensaçâo de que a lingua é uma coisa que está-se construindo, algo que nâo está pronto.
Depois, durante uma excurçâo pelas terras do sertâo recolheu informaçoes dá fauna, flora, gente, usos, costumes, creenças, superstiçôes e cançoes. Esses elementos foram fonte de inspiraçâo para o seguinte livro: Corpo de Baile. Obra que depois foi desmembrada em tres diferentes partes. A última, Grande Sertâo: veredas é sem duvida, a obra mais reconhecida do escritor. No proprio título, o autor faz referência a dois universos de linguagem: um tipo de fala formal e outro local, da gente que mora nas veredas do sertâo. Pode-se dizer que neste livro, Guimarâes Rosa fez um retrato do Brasil, donde tambem aparecem questôes existenciais da vida, origem, misterio, do bem e do mal.
Como se soubesse a sua missâo na vida e o seu final, ele procurou escrever cada vez mais. Em 1962 publicou Primeiras Estórias e em 1967 Tutameia que ficou como um testamento porque condensou o seu trabalho literario.
O escritor morreu prematuramente aos 59 anos de idade, no ápice de sua carreira literária e diplomática, mas como ele teria dito alguma vez "As pessoas não morrem, ficam encantadas".